POLÍTICA ECONÔMICA - Dólar em queda tira o sono de empresas exportadoras / Ernani Fagundes
O dólar fechou o dia de ontem cotado a R$ 1,68 -- portanto abaixo do patamar de R$ 1,70 -- pelo terceiro dia consecutivo.
Na opinião de analistas consultados pelo DCI, essa tendência de valorização do real tende a diminuir ainda mais o saldo positivo da balança comercial. "Muitos exportadores, sobretudo os de produtos industrializados, não devem estar dormindo esses dias", avaliou o coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios, Olavo Henrique Furtado.
O professor aponta a indústria nacional como a principal prejudicada com a queda do valor da moeda americana. "O grande volume de importação de manufaturados vai ter um impacto muito grande na indústria nacional", alerta Furtado.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o saldo positivo da balança comercial, a diferença de valor entre exportações e importações brasileiras, vem caindo nos últimos anos.
Dos US$ 46,45 bilhões registrados em 2006, caiu para US$ 40,03 bilhões em 2007 e ainda mais em 2008, quando registrou US$ 24,95 bilhões. O saldo comercial se manteve baixo em 2009, em US$ 25,27 bilhões, época em que o Brasil sentiu os efeitos da crise econômica mundial.
Mas de acordo com o professor, o saldo positivo pode cair ainda mais em 2010. "O mercado consumidor nacional é muito grande, mas não é mais exclusivo da indústria brasileira", observou.
Segundo Furtado, a abertura de mercado veio para ficar. "A única economia fechada do mundo é a Coreia do Norte", diferenciou.
Para o professor da Trevisan, a indústria terá que se adaptar a nova realidade. "Terá que chamar seus tradicionais fornecedores e negociar, argumentando que está mais barato trazer os insumos do exterior", sugeriu Furtado.
Ele avaliou as medidas que o governo tomou nos últimos dias para segurar a cotação da moeda norte-americana. "No curto prazo as medidas foram acertadas, mas vamos ver se elas vão surtir efeito", comentou Furtado.
O professor se referiu ao fato do governo ter aumentado a alíquota do Imposto de Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% nas aplicações de renda fixa, e de ampliar o prazo de contratação de operações de câmbio de 750 dias para 1.500 dias.
"O que pode acontecer é que o investidor ou o exportador vão deixar os dólares mais tempo no exterior", avaliou Furtado.
Ele completou: "No médio prazo, o Brasil terá que superar seus gargalos de infraestrutura e logística para ser mais competitivo nas exportações", concluiu o professor da Trevisan.
Se o setor industrial não está dormindo com a queda do dólar, outro setor, o de commodities vive crescimento expressivo das exportações, mesmo com o dólar em patamares baixos.
"As exportações estão crescendo em ritmo forte e devem crescer mais 7% em 2011 mesmo com o cenário de dólar baixo", prevê o analista da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri.
De fato, de acordo com dados do Mdic, as exportações cresceram 28,9% em 2010 e alcançaram US$ 144,93 bilhões até o final do mês de setembro e devem superar a meta do governo de US$ 180 bilhões para este ano.
"A China e outros países em desenvolvimento estão comprando muitas commodities do Brasil, e estamos repassando aumentos nos preços dessas mercadorias", destaca Lavieri.
Nos últimos doze meses as commodities e semimanufaturados apresentaram elevação de preços. Os destaques são: minério de ferro (172,9%), suco de laranja (70,9%), laminados planos (50,3%), semimanufaturados de ferro e aço (50,1%), couro (49,3%), celulose (43,9%), fumo em folhas (35,9%), café em grão (27,3%), carne suína (25,7%), açúcar em bruto (23,6%), açúcar refinado (21,5%), etanol (20,7%), milho (17,9%), carne bovina (+16,7%), alumínio em bruto (15,5%) e óleo de soja (11,1%).
Mas o volume de importações cresceu 45,1% em 2010 e alcançou US$ 132,15 bilhões até setembro. "Os preços dos produtos manufaturados nos países desenvolvidos continuam muito baixos. É uma oportunidade para importar a preços atraentes", argumentou Bruno Lavieri.
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