Comércio exterior e investimentos em infraestrutura podem ser os principais motores para o Brasil retomar a trajetória do crescimento. A avaliação é de empresários e executivos que participaram nesta sexta-feira 18 do Diálogos Capitais Fórum Brasil: Como retomar o crescimento, realizado por CartaCapital.
Demian Fiocca, sócio da Mare Investimentos, avalia que projetos de infraestrutura, por serem de longo prazo, se descolam mais facilmente no cenário presente, se tornando quase independentes do momento presente do ciclo econômico.
A função do governo, nesse caso, seria oferecer previsibilidade ao investidor. O governo também pode agir lançando concessões. "Tem projeto e tem demanda", afirmou, lembrando, porém, que muitos investimentos deixam de acontecer pelo excesso de burocracia e exigências.
Para Antônio Maciel Neto, presidente do Grupo Caoa, o Brasil está numa encruzilhada, mas em todos os indicadores a situação hoje é melhor que no passado. É preciso, porém, uma nova agenda.
Para ele, o modelo de crescimento via inclusão no mercado de consumo já se esgotou e é preciso elevar a produtividade. Além disso, assim como Fiocca, Maciel aposta na força do investimento e no fluxo de comércio exterior, mas não apenas nas exportações.
A pressão atual deixa tudo pior, mas é preciso reconhecer que a economia brasileira mudou de patamar. Infelizmente, para Maciel, a produtividade brasileira ainda engatinha, com índices muito abaixo dos registrados em outros países, consequência da burocracia e do baixo investimento em bens de capital.
"A questão central é a retomada do investimento, que hoje está num dos piores níveis em relação ao PIB dos últimos 20 ou 30 anos. O Brasil precisa se integrar de fato nas cadeias produtivas globais e só conseguirá isso se enfrentar as questões de produtividade", concluiu.
Empreendedorismo e investimento é a saída para Wilson Ferreira, presidente da CPFL Energia. O executivo acredita que o Brasil não trata o empreendedor com a reverência que deveria. Para ele, é mais bem visto quem ganha dinheiro no mercado financeiro do que quem aposta em uma ideia e a produz.
Sobre investimento em infraestrutura, Ferreira lembra que cada um real investido no setor se transforma em três reais no PIB. Para isso, ele defende o fortalecimento das agências reguladoras, que não devem ser instrumentos políticos, e revisões ágeis nos marcos regulatórios. "Ajustes são naturalmente necessários, mas eles precisam acontecer rápido para não dificultar os projetos."
Ferreira acredita que o Brasil precisa dobrar o volume de investimentos em infraestrutura para voltar a crescer de forma sustentável pois, embora seja uma das maiores economias do mundo amarga o 75º lugar em qualidade da infraestrutura. "Há oportunidades em todas as áreas", garante.
Crise política
O cenário político afeta o humor da economia e a confiança de empresários, investidores e consumidores. Mas, no geral, os empresários e executivos que palestraram no evento estão otimistas. Ferreira espera uma solução para o auge da crise política em quatro ou cinco meses.
Com isso, o estado de desconfiança de todos os agentes deve mudar. Para ele, o atual nível de desemprego, por exemplo, não justifica quedas tão bruscas no consumo. "Estão todos contaminados pelo estado das coisas"
Para Fiocca, a paralisia é que traz o fracasso, então é preciso seguir trabalhando para manter as coisas no rumo sem se apavorar. O que falta é a disposição para o diálogo. "Temos todas as condições para voltar a crescer. Não há crise de dívida ou inflação sem controle como já houve em outros tempos. As instituições funcionam e o sistema financeiro é sólido e tem liquidez", concluiu.